segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Doze Dezembro

“A casca do corpo é dura e esconde uma população curiosa, são idéias que vivem ali dentro e passam por transformações constantes. As histórias de dois mil e onze passagens deixaram na boca do camaleão o “doze” desejo de ir em frente; por conta delas e por felicidade de vinte e três passagens por qual passara substancialmente o mesmo segue seu legado.”

Trezentos e sessenta e cinco dias no ano e os números em ordem progressiva ainda não me dizem nada; buscando por conclusões, a única que colho da calculadora, é o desejo de transformá-las em rima e poesia.

O tempo voa quando se faz o que gosta; no barco então, dá até a impressão que estamos navegando com potência em dobro. O tempo por outro lado pára, às vezes. O tempo pára.

Acho que essa é uma das maiores provas que encontrei até hoje para ter razões em acreditar no que o Gabriel cantava: “Se a gente muda o mundo, o mundo muda com a gente” e isso inclui o tempo.

Tomo dez horas em pé, vendendo minha vida em busca de notas de papel e momentos de folga; tem dias que leva uma infinidade para o ponteiro do relógio girar.
Por outras vezes, em outras áreas do relógio, o ponteiro parece girar mais rápido, tipo outro dia quando desci em Grande Caimã.

O gerente me avisou que a excursão na qual eu iria participar de início tinha sido cancelada e por fim eu teria que ir a outra. Acabei em uma lancha só para mim!

Lembro claramente do pé trêmulo no acelerador enquanto o “barquinho” pilotado por mim cortava as ondas azuis, feito manteiga. De relance olhava o painel marcando números que variavam de oitenta a noventa quilômetros por hora, sentia o coração dançar dentro do peito e admirava as sombras dos corais no fundo do mar. Depois de alguns bons momentos, paramos em alto mar, ainda bem distantes da ilha, para uma explicação quanto ao rife sobre o qual estávamos.

Daí eu me recordo de pular da pequena lancha e ser puxado pela gravidade.
Como se acabara de ter sido transportado para uma nova dimensão, eu só via ao meu redor peixes de cores radiantes e corais que pareciam dançar acompanhando a correnteza das águas; ficamos ali quase duas horas admirando tudo através das máscaras de mergulho. Foi bom, muito bom! Mas passou rápido.

Já ouvi e já li que os dias estão ficando mais curtos; curtos ou não, o ano rendeu bastante quando penso que Janeiro já não está ali atrás, mas sim, logo ali na frente.

Dois contratos com o Crown, cheio de novas pessoas, mergulhos, passeios, comidas que nunca pensei que comeria; férias de dois meses, textos e desenhos, filmes, músicas que já dão para escrever um livro só de pensar.

Sem contar com cada ilha do Caribe, países que já não consigo contar nos dedos: México, Estados Unidos, Canadá, Portugal, França, Holanda, Groenlândia, Islândia, Inglaterra, Escócia, Irlanda (do Sul e do Norte). Cinqüenta e seis portos visitados! Posso dizer que está valendo o tempo e esforço. Esse provavelmente será o último texto antes do Natal, meu aniversário e Ano Novo, sendo assim, não vou perder tempo com os dizeres de sempre, mudarei:

Torne o Natal de alguém feliz e nunca para de buscar sua própria felicidade. O vinho que servirá só dura até a última gota da garrafa; porém quanto dura um sentimento?

Deixa eu navegar.

domingo, 20 de novembro de 2011

Gelatina, Jazz & Caribe

Ognjen está ouvindo Cinematic Orchestra, um grupo que conheci há poucos dias; misturam rap com soul, jazz com mestre de cerimônia, piano com raiva, tipo de música que cai bem com um bom headphone e um pote gelado de gelatina. Eu estou sentado na frente do Positivo escrevendo umas palavras que vão passando na batida do bumbo e no balanço da onda lá fora, a escotilha do quarto 4254 está aberta. Ele não para de falar enquanto eu escrevo. Eu não paro de escrever e rir enquanto ele fala. Meu companheiro de quarto é um cara legal, um tanto quanto revoltado às vezes. Já eu, sou um revoltado de quarto um tanto quanto legal imagino (espero).

Pulando a introdução, indo direto ao prato principal, eu tenho que marcar no papel digital que felicidade é mais do que um monte de fotos e risos. A meu ver, “feliz” é uma chuva de sentimentos e argumentos registrados de sigo pra sigo mesmo, cada um tem sua noção individual do que é o adjetivo; então dá um tempo e deixa-me navegar.

Novembro, doce novembro... Não! Até então salgado, um tanto salgado novembro! É que desse lado não posso deixar de me embebedar de bronze e água do mar; as praias daqui revitalizam qualquer corpo cansado. Tenho trabalhado bastante, mas faço valer à pena.

Muitos foram os lugares por qual tivemos oportunidade de visitar desde que deixamos a Europa e voltamos para América. Quebec, Saint John, Sydney foram alguns dos portos que visitamos no Canadá. New Port, Portland, Boston, Charleston, Charlottetown, Nova York, grandes portos da terra do Big Mac.

Passamos também por dez dias de Dry Dock (“doca seca”), período em que o navio entra em manutenção e por fim, seguimos para Port Everglades (Miami) para uma nova temporada Caribenha.

Os cruzeiros agora são de sete dias: um dia em Princess Cays (Bahamas), um dia de mar, um dia em Curaçao, um dia em Aruba, dois dias de mar e de volta a Miami. Haverá semanas em que o itinerário mudará incluindo Roatã (Honduras), Ilhas Cayman, Belize, Cozumel (México) e Bonaire.

Já conhecia Princess Cays do contrato anterior, quanto a Curaçao e Aruba são lugares incríveis. Tirei um dia em Curaçao para fazer snorkel (aquele mergulho com pés de pato e uma máscara esquisita com um tubo para se respirar), fomos até um barco naufragado onde nadei cercado por mais de quinze tipos de peixe. Em Aruba aproveitei para correr até a praia (Palm Beach), uma hora de asfalto, quase duas de terra e areia que farei questão de repetir.

As duas ilhas, ambas protegidas pela UNESCO, são colônias holandesas, apesar de independentes. Lá todos falam Papiamentu (língua local), Espanhol, Inglês e Alemão. Estou animado com esse clima de sol e praia e a maré mais uma vez se mostra a meu favor.

Semana passada, descobri que serei transferido para o departamento de excursões. Por conta disso, tenho a obrigação de conhecer as opções que oferecemos aos passageiros; nada melhor do que experimentar cada uma das opções para ter certeza.

Voltei a Aruba semana passada e visitei os principais pontos da ilha. Um jardim de Borboletas, uma fazenda de Avestruzes, uma ilha com brinquedos aquáticos e bebidas exóticas, um ponto excelente para snorkel, um farol com mais de duzentos anos e uma ponte natural que passa sobre o mar.

Amanhã estarei em Cayman. Hoje é domingo, já escrevi o bastante. Vou comer minha gelatina e descobrir o que tem ali no horizonte. Já volto.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

De Nilo a Navegante

Nasci. Brinquei. Nunca fui de jogar bola, mas joguei videogame. Queria um Playstation, não tinha, então desenhava e jogava Nintendo. Sofria bullying na escola, ia para casa, matava no lápis os monstros que me assustavam. Além de Deus, pais e irmão, aprendi a ser meu melhor amigo. Um noite meu pai me beijou e saiu para seu último copo; não chorei e fui brincar.

Descobri o que era asma e nebulização. Entre crises e saudade, a vida melhorou. Mudei de casa e de escola, ganhei um Playstation. Conheci meu primeiro melhor amigo. Um ano depois, percebi que ele me fazia de otário; descobri o que era e resolvi virar bobo. Minha mãe me colocou no inglês, eu não queria e meu irmão me convenceu. Tinha talento com o inglês e decidi que queria ser professor. Resolvi fazer Letras.

Passei no vestibular, mas resolvi prestar serviço militar (obrigatório). Já nos meus dezenove, a faculdade era um saco. Nas aulas, eu desenhava e escrevia. Virei professor em um curso particular (naquele onde eu estudara). Passei a escrever mais do que a desenhar e assim descobri a rima e poesia. Conheci novas possibilidades e resolvi que iria trabalhar em cruzeiros. Economizaria e abriria um pub, hostel, restaurante, estúdio com o dinheiro poupado.

Dois anos depois me formei em Letras, terminei o Espanhol, pedi as contas e comecei a trabalhar em um dos melhores hotéis do Rio (por sorte, destino ou concidência; o curso e o hotel tinham uma parceria). Corri atrás do que desejava; corri literalmente: Cinco, dez, dezesseis e vinte e um kilômetros até a chegada! Quando parei para respirar, já estava arrumando as malas para meu primeiro embarque. Fui amado, amo os que fizeram e fazem parte de tudo isso e sigo Navegante. Amo a vida.

My Little Poney, Kilts & Frio

Tudo tem um sentido! Vai falar que não é? Bem, isso vai depender muito de sua capacidade sensorial; tem mudanças que marcam a gente, como se de uma hora para outra fossemos obrigados a deixar de ser quem somos; existem porém, mudanças que quando chegam, ainda que radicais, se quer nos damos conta de que estão ali, na pele, no corpo, no cotidiano e na ponta do dedão da alma.

É assim! Assim que me senti ao lidar com uma situação que chegou do meio do nada. Estava curtindo minhas férias de tripulante, quando me ligaram e ofereceram a vaga repentina; descobri que alguem desistira de continuar a bordo dias antes. Veio a primeira mudança, desliga o relaxado e passa para o nível frenético de existência! Mas então, passou um minuto, duas horas, uma noite, dois dias e notei algo: Além dos novos portos e expectativas, notei que mais uma vez, tudo o que desejava aconteceu, e tudo porque em determinado momento eu mudei sem perceber.

Três semanas se passaram desde que cheguei. Inverness fica na Escócia, é cidade central para todos que querem ir a Loch Ness “O Monstro do Lago Ness”. Passamos também por Dublin, lar da Guiness; Liverpool, cidade dos Beatles; Belfast, a dos incidentes alguns meses atrás; Lerwick, Escócia, palco do maior festival de bandas militares do mundo e agora estamos no meio de um cruzeiro a caminho de Nova York.
Passamos também por Bergen (um dos três mais altos fiordes da Europa pode ser visitado de lá); Lerwick, Shetland Islands (parte da Escócia) e agora estamos em Tornshavn, Faore Islands, Dinamarca.

Entre homens de saia (kilt), castelos, mini-pôneis e frio eu tenho preferido ficar a bordo, portanto não esperem ver fotos dessas ilhas visitadas até então. No entanto estou animado para a chegada à Islândia, aí sim, empurro o pedal da bicicleta pra frente e farei questão de tirar montes de fotos em Reykjavic e Akureyry.

Esse texto foi escrito em 25/08/11.

Segundo Contrato: Vamos?!

Uma terça-feira de volta ao Rio, o ar condicionado ligado enquanto eu, lá dentro da academia no Leme, terminava de levantar mais alguns pesinhos. Do fone de ouvido brotava alguns versos da Firma, um dos grupos de rap que tive a oportunidade de conhecer durante essas férias. Tudo certo e perfeito e lá estava Paulo, o que o namorado de minha mãe fazia ali?

Paulo me disse que alguém ligara para mim de uma agência de viagens, saí de lá no mesmo instante, receoso, pois poderia ser sobre a Princess, alguém com notícias sobre meu próximo contrato.

Cheguei ao apartamento, peguei o celular amarelo e liguei, ouvi o que esperava com um frio no estômago. Resumindo: Hora de embarcar, precisamos de você para ontem, a resposta tem que ser hoje!

Tudo girou como se tivessem me jogado com roupa e tudo dentro de uma Brastemp; vi a meia maratona que planejei fazer, os vocais femininos que Helena gravaria em uma das músicas novas, um evento de despedida em setembro, os dias de praia com minha mãe recuperada de uma cirurgia, o livro que quero terminar de ler, cálidas tardes estudando francês, beijos e abraços, punhados de risos e suspiros, esperança no “será que ela vem no final de agosto”.

Não tive tempo de pensar muito, não quis, sabia minha resposta desde o início: Eu vou, estarei lá dia 13 de agosto como está me pedindo! Pode me chamar de Navegante, faço parte de um grupo grande espalhado por aí!

Esse texto foi escrito em 09/08/11, data em que realmente me preparava para embarcar.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Minha Despedida do Crown Princess

Esse texto é dedicado ao fechamento de meu primeiro contrato a bordo. Para você que veio acompanhando os casos de navegante, espero que se divirta, para quem não me conhece e hoje me visita por acaso, leiam as entrelinhas, está tudo aqui.
Está aqui essa sensação de que o final foi tão rápido que ainda se quer me toquei que já cheguei ao fim. Se não fosse pela aparência do Heathrow aqui em Londres, pelo gosto de Guiness que tenho na boca e pelas pessoas que estão a minha volta, diria que voltei à criação do primeiro relato desse blog; até o pai brincando com a filha me faz lembrar aquele dia.

Vou voltar de braços abertos para aqueles que não desistiram de mim, vou dar um beijo naqueles que acreditaram e se não tiver ninguém além da mãe e irmão, vou beijar o solo da cidade que ficou distante ainda que só por alguns meses.

A volta para casa é algo que é planejado com bastante antecedência, no meu caso eu até que pedi para estenderem meu contrato, mas não deu certo dessa vez; o jeito foi ligar para CSA e avisar: - Mãe chego daqui a alguns dias.

Um detalhe importante é sempre arrumar tudo para a partida com o mesmo zelo que se teve antes do início de seu contrato, ou seja: - Tudo na última hora! Parecia até que estava ouvindo a Cris falando: - Nilo, você arrumou a mala? Arrumei, arrumei tudo ontem. Antes de dormir, mas depois de comer, tomar banho, falar com os amigos, olhar para o mar e chegar a conclusão “shis”! “Shis” de “shit, estou cansado demais, arrumo amanhã”.

Hoje, antes de vir para o aeroporto, continuei a maratona: Vai para o escritório, entrega as chaves, entrega o dinheiro por qual foi responsável, passa tudo o que sabe rapidamente para o novo contratado, fecha a mala, abre a mala, volta na recepção, se despede, volta e se despede da paquita novamente, ri, sente vontade de chorar, se conforma, a vida é assim e parte para abraçar o trajeto de volta ao rio.
Entrei no ônibus que partiria em alguns momentos para Heathrow, passei por alguns amigos que também estavam indo de volta para casa e de repente um susto!

Não conseguia achar a quantia em dólares que juntei durante todo o bem aventurado contrato! Me concentrei, já estava atrasado, não queria atrapalhar ninguém, mas por fim vi que o melhor era abrir a boca para o motorista: - Para aí motorista, esqueci o “cash” todo! Pulei para fora do transporte, corri até o oficial responsável e o mesmo me explicou que a solução era pegar um táxi por conta própria mais tarde, o ônibus precisava partir naquele momento; aceitei a idéia e felizmente quando fechava minha mochila lembrei onde colocara a quantia, já de dentro do ônibus me sentei novamente, já calmo, e me despedi do Crown.

Termino assim, agora é hora de aproveitar as férias. Nada de conclusões mega elaboradas! Quer saber mais? Embarca! Ou espera até eu começar meu próximo contrato.

Fiquem com Deus.

Adaptadores, Momentos & Saudade

Olha lá, você lendo e eu aqui deitando nessas linhazinhas de computador um mundo de informação que passa pela minha cabeça. Pode chamar o Nilo, conta ainda com aquele Nilo que você conheceu um dia; aquele que sempre tentei promover através de músicas, desenhos, cores e fotos, mas é que hoje resolvi me aconchegar aqui nesse amontoado de palavras; me concentrar no que estou sentindo e fica quieto num canto de parágrafo, para depois me jogar para outro suavemente.

Tudo isso só para falar que depois de alguns meses chega a hora de assumir que há um dia chuvoso brotando dentro da minha mente; vejo as idéias reunidas em um corpo sentado em um banco, esperando o ônibus que vai me levar para a cama depois de um dia intenso.

Já não me refiro à América que ficou lá atrás, à areia branca de Caimã, aos altos e baixos do contorno de Roatã, aos carros velozes passeando por Miami ou à água gostosa do mar caribenho; nem mesmo me sinto assim porque já consigo sentir saudade de tudo isso que estou vendo em um novo continente, confesso que vou seguir um pouco além disso.

Tem um texto da Clarice, é! Da Clarice Lispector, que diz que tudo é efêmero, é verdade! Meu desafio é colocar o coração para seguir a ordem dos fatos; pois se às vezes passamos por momentos difíceis, tem momentos que a realidade e tão farta em açúcar que é difícil parar para escovar os dentes.

Me adapto e sempre vou me adaptar, o problema é quando falamos de pessoas: Três dias para partir, para deixar o Crown, para me despedir daqueles que ainda que eu saiba que vou acabar por me esquecer, não me esquecerei jamais. Olho em volta, vejo a fila de passageiros na minha frente, olho os amigos ao me lado e ainda que melancólico, eu sou convidado a aceitar que eu também sou passageiro aqui.

sábado, 11 de junho de 2011

O Monstro do Lago Ness

Dez horas e lá vou eu correndo ao Crew Office buscar as chaves da bicicleta número doze. O Branko vai comigo dessa vez, o sérvio até que pareceu bem disposto quando eu disse que o destino ficava a algumas milhas de distância.

O Branko é um dos amigos que vou lembrar depois que deixar esse navio, é o gerente do serviço de internet a bordo e dá maior força pra minhas metas de longo alcance.

Passei pelo meu quarto, troquei de roupa, lutei para achar algo que fosse suficientemente confortável e por fim depois de muito discutir com o meu ego insano, acabei por sair de casaco... Mas, de bermuda.

Invergordon, Escócia, nove graus Celsius, e lá vamos nós. O Branko riu quando me viu carregando três garrafas d’água na mochilona da Oakley. Invergordon, Escócia: QUARENTA E CINCO MILHAS DE INVERNESS!

Por essa eu não esperava, o destino desejado ficava além do meu tempo livre naquele dia frio. A saída era dar meia-volta, guardar a bike, sentar em um pub, comprar um kilt e rir da aventura furada, mas... Sou péssimo em aceitar as saídas e acabei por enxergar uma entrada; Branko concordou comigo: - Estamos aqui, então... Bora pedalar!

Foram três horas pedalando forte, tão forte ao ponto de voltar totalmente desconcertado em comparação com os turistas a minha volta. Já não tinha casaco e nada de meias de frio. O terreno aberto, pleno em cores verdes e as casinhas no alto dos morros, dignas dos mais belos cenários medievais me fizeram esquecer a baixa temperatura. Cada terreno aberto, cada pequeno lago só me aumentava a curiosidade, as placas passavam, as milhas correram e quando vimos... Era hora de voltar.

Lição número tal para futuros navegantes: O intervalo entre seus dois períodos de trabalho pode ser grande, mas nem sempre grande o suficiente para visitar as maiores maravilhas de determinados portos. Nesse caso não chegamos exatamente onde tentamos: O Lago Ness, o Loch Ness, o Lago do Filme, Aquele do Monstro...

Já acomodados em um pub, pertinho do navio, cerveja local na mão e câmera na outra, o Branko analisa as fotos, larga o copo gigantesco na mesa, pega umas batatas fritas, come, olha de novo para as fotos, olha pra mim, olha para o visor da máquina novamente e questiona: Vem cá? Afinal, se não fomos ao Ness, que lago é esse?! O que é que eu vou falar lá em casa?!

Conclusão: Fui ao Loch Ness e foi maravilhoso! Não acredita?! Dá uma passadinha na Escócia e confirma.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Do Outro lado do Oceano

Olá! Quanto tempo se passou desde que escrevi pela última vez! O tempo voa aqui dentro e é hora de voltar à atividade; creio que a primeira parte da minha história de primeiro contrato já se foi faz tempo, mas, ainda assim, de hoje em diante, quero guiar cada palavra de uma forma nova, nada de segunda parte! Digamos que comecei uma nova temporada.

Meu navio, o Crown, finalmente deu continuidade ao seu itinerário e agora eu vim parar na Europa. Foram sete dias de mar desde que partimos de Miami. Ao chegar a Europa fomos primeiro para Açores, onde tive oportunidade de conhecer Ponta Delgada.

Ponta Delgada é um dos portos mais conhecidos do Arquipélago de Açores, lá todos falam o português e a ilha é bem respeitada, pois é na verdade o cume da montanha mais alta do mundo (ainda que afogada em milhares de litros de água fria).

De lá partimos para Lisboa, a cidade é incrível, estranha sensação de estar caminhando em um misto de Lapa e Santa Tereza, cercado por igrejas, monumentos e arcos gigantescos. As pessoas são amigáveis e possui uma moda bem alternativa. E claro... Garrafas de vinho para todo lado, nem eu consegui escapar e acabei comprando algumas.

Rotterdam foi nossa próxima parada; a cidade que é uma das dez cidades mais caras do planeta fica a duas horas de distância de Amsterdam, lá os locais fazem questão de falar algo que soa como “se é por profissão fica em Rotterdam se é por curtição vai já pra Amsterdam”.

Como o tempo foi curto acabei ficando por Rotterdam, fui ao meu primeiro pub desde que cheguei a Europa e não poderia faltar cerveja local e bom rock para acompanhar cada gole.

O tempo continuou e quando vi, já tínhamos passado por vários portos que não posso esperar a hora de visitar novamente. A Europa se tornou diante dos meus olhos um mundo de castelos, lendas e pubs!

Cobh foi o porto usado na visita a Cork, uma das ilhas da Irlanda; Dublin é uma cidade mágica, tradicional e muito famosa, pois é de lá que vem a Guiness e hoje... Estamos em Liverpool!

Beatles, pubs, frio, decoração, museus, igrejas, construções modernas e ônibus de dois andares. Finalmente sinto o que é chegar ao Reino Unido, já que os dois últimos portos não fazem parte do mesmo.

O Gonzalo, meus segundo companheiro de quarto terminou mais um contrato; depois disso, eu dividi a cabine com o Nimbrod, um filipino que ficou aqui só por dois dias. Fiquei sozinho por uma semana e agora tenho um novo amigo, o Alex, o russo é genial e tem sempre uma história nova para compartilhar.

Mantenho meus passos a base de muita responsabilidade com minha alimentação e preparo físico, continuo lutando para dormir um número aceitável de horas de sono, e posso dizer que abri a cabeça para novos amigos, me sinto mais unido, me sinto mais parte do navio.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Realizando

Tem barulho nessa cabeça. “Pergunto-me de onde vem e como vem” (dedico ao meu irmão, vide comentário no ultimo texto). Hoje o corretor me corrige, escrevo de casa (digo cabine), digo, desculpe-me por interromper os parênteses, mas é que preciso corrigir o corretor, pois das novas o automático não sabe de tudo por inteiro.

Na vida a bordo tem algo bem positivo: Não dá tempo de se cansar de alguém; até dá, mas quando você para e analisa, a pessoa em questão já se foi embora. O chefe mandão não existirá mais, a pessoa que te assedia está na última semana, o cara que só reclama ficou para a história lá atrás e você... Bem, você provavelmente já estará indo embora quando começar a pensar nisso tudo. Tudo se encaminha no ritmo dos mares, somos todas as partes de um grande cardume de peixes (que brega).

O peixe em questão vai ficar na saudade, meu primeiro companheiro de quarto foi embora com sua namorada; Ele disse que não vai voltar mais, quer ter uma vida normal lá fora: Casar e ter filhos, realizar o que ainda não se deu a chance de ser feito.

Tudo, até então, se resumiu em realizações pessoais e essas, a cada dia que passa, se tornam mais claras e objetivas. Sinto-me realizado com o meu trabalho, realizado com minha liberdade e poder de criar e compartilhar com o mundo de minhas idéias.

Não existe nada impossível, o que descobri até agora foi o ato passível de acreditar que não se pode fazer algo. Leio quando posso, como quando posso, respiro quando posso e por que não poderia realizar algo quando posso? Posso tudo Naquele que me fortalece, mas não de uma vez... Nota: Lembrar disso no futuro!

Parece que o pedido de comentários e sinais de vida surtiu efeito! Positividade para todos!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Quatro Meses sem "Pontuacao" Adequada

Hoje resolvi escrever daqui mesmo onde estou agora. Nao resolvi, aconteceu. Aconteceu pois a medida em que viajo nessa "maionese" de novas ideais e lugares, o tempo comeca a ser pouco para agarrar cada oportunidade e novo desafio. Estou no "Noname", um bar para crew members, aqui em Cozumel.

Abril na metade e eu proximo dos meus quatro meses desde o inico do contrato. Posso dizer que ate entao so tive experiencias boas, escrevo isso levando em conta que tudo veio gracas a minha facilidade de ver o lado bom de tudo.

Enquanto vejo cada palavra ser sublinhada pelos erros de ortografia (o teclado e totalmente diferente dos brasileiros), encho meus ouvidos com as batidas pesadas do Black Eyed Peas "Time of My Life" tocando perto da piscina, enquanto um dos meus amigos servios canta e joga sinuca, ja alterado pelo numero de goles de Corona com limao.

Faz muito calor, o que nao e novidade para um cruzeiro no Caribe. Hoje so trabalho de noite e assim que terminar aqui, me encontro com um pessoal do barco para visitarmos uma praia conhecida pelos fas de snorkel (aquele mergulho com pes de pato, tubo e oculos engracado).

Desde meu ultimo post algumas coisas mudaram: Meu companheiro de quarto terminou seu contrato e por conta disso fiquei com a cabine so para mim. Outra mudanca e que agora trabalho na recepcao apenas meio periodo, a outra metade me dedico a Artes (sou responsavel pelos lancamentos e balanco de tudo o que e leiloado).

Um beijo para todos aqueles que mesmo desse lado se preocupam com o meu sucesso e minhas caminhadas por esse mar azul. Um beijo maior ainda para todos aqueles que quando passam por aqui fazem questao de escrever algo, saibam que tambem me pergunto como estao todos por ai. Um Beijo. Fiquem com Deus... Hora de dar um pulo naquela piscina, comecou a tocar Blink 182 "The Party Song"!

quarta-feira, 16 de março de 2011

Sorriso com Terra nos Dentes

E assim continuo. Começo com essa frase esculpida em toneladas de energia e bom humor. Viver num barco! Olho lá para fora e vejo que como o mar, todo o cenário muda a cada dia.

A vida a bordo, sem dúvida, é bem diferente do que imaginamos quando estamos do lado de fora. Sei que é real, pois estou passando por ela, mais ainda que proporcione alguma dificuldade, é recompensadora. Aqui eu não me preocupo com trânsito parado, com poluição sonora, com desigualdade social, contas a pagar (exceto a do bar), com a comida que não preparei do jeito que eu imaginara e assim por diante.

Existem os desafios, cito os mais comuns que percebi entre meus companheiros navegantes: sentir-se preso, tédio, estresse, desprezo pelo simples e solidão. Felizmente de todos os principais sintomas me identifiquei apenas com o estresse; os outros me passaram despercebidos, talvez pelo fato de ser meu primeiro contrato, somado com minha facilidade de ver o lado bom das coisas a ainda com a satisfação de abraçar tudo o que Deus me proporciona.

Meu maior dilema é a tal da “alienação”. Acho que a essa altura, já devo ter o mesmo número de citações para ela e “navio”. É que certas coisas me incomodam.
Quando em terra, assistimos a maioria dos desastres e conflitos do mundo através dos canais de mídia. A mensagem pode ser alterada, deturpada, estraçalhada por completa, mais ainda assim trás algum ponto de verdade que poderá ser confirmado se compararmos uma com outra qualquer.

Já aqui dentro, nem isso acontece. Acordamos e ao menos que seja de nosso interesse, vivemos isentos dos afazeres terrestres alheios, e coloco terrestre nisso! Dois dias desde o desastre no Japão e ainda tem muita gente passando só pelo “ouvi falar”. Eu mesmo, algumas semanas atrás, demorei dois dias, até saber por um hóspede, que Teresópolis estava deslizando com tudo em cima.

Aí me pergunto? A falha é nossa, de não nos interessarmos pelos acontecimentos a nossa volta, ou foi a tal da globalização que nos uniu demais e já não nos dá mais tempo de nos conhecermos e estudarmos nosso planeta antes de destruir-lo?

Informado ou não, voltando para minha vida a bordo; não muito preocupado com uma resposta clara para minha questão (não muda nada para mim se quem veio primeiro foi o ovo ou a galinha para achar que comer o ovo é menos cruel) só sei que, me encontro realizado quando penso em trabalho, mas darei sempre o mesmo conselho para os que me perguntarem:

“Pergunte. Questione. Não quer incomodar os outros, eu entendo... Questione a si mesmo. Não tenha todas as respostas, mas busque uma.”

Trocando o Dia pela Noite

Toca o despertador, acorda o boneco assustado. Sem jeito, pula da cama para o chão como se tivesse ouvido o “Abandonar Navio”. Ele se arruma, faz a barba, quase não tem. Escova os dentes, veste a farda de todos os dias e sai pronto para desejar um bom dia energético para o primeiro que lhe aparecer. ERRADO! Agora deve dar boa noite, mas vai tomar tempo para se acostumar.

Esse sou eu aqui e agora. Agora que leio já não sou mais o mesmo. Agora que você lê já não sou mais o mesmo. Eu fui eu e agora já sou outro que já não sou mais. Isso é mais ou menos o que passa pela minha cabeça quando paro para pensar que já se foram dois meses desde que entrei para o barco.

Mudo a cada dia e cada dia muda minha rotina de uma maneira que não tenho como não agradecer por tudo o que estou passando. Agora estou trabalhando a noite. Trabalho de onze até oito da manhã. Sou eu e eu na Recepção e agora quando eu faço algo errado, corro logo para supervisão para culpar a mim mesmo, assim eu evito problemas. Trabalhar comigo é legal, mas tem hora que perco a paciência comigo mesmo.

Em suma (tipo clichê de dissertação), estou fazendo o night shift, pois dessa forma aprendo mais sobre os detalhes financeiros e sistemas do navio; consigo programar meu dia para excursões e adquiro uma experiência que poucos têm (poucos querem trabalhar a noite).

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Correndo com Valentim pelas Ruas de Miami

Acabei de voltar do crew drill (treinamento de segurança apenas para os tripulantes que ocorre uma vez por semana), eu sou um dos door checkers da minha área de concentração; fico responsável por contar quantos passam pela saída de emergência a caminho dos botes salva-vidas (aqui se chamam tenders).

Ontem comemoramos o Valentines Day (Dia de São Valentino ou Dia dos Namorados), achei curiosa a preocupação das pessoas por aqui com a data, tudo muito decorado e colorido, tipo Natal, mas nada de achar alguém para me explicar quem foi o famoso Valentim. Resolvi buscar na internet e confirmei algo que já tinha lido por aí. São Valentim é um santo que representa mais de uma pessoa em diferentes momentos da história; ambos eram ligados a igreja, ambos foram heróis, ambos morreram para então serem canonizados.

Tirando o momento alienação “Comemoremos e Deixemos a Razão de Lado”, foi uma noite e tanto. Os Pursers ficaram responsáveis pela decoração, eu responsável pelas compras dias antes.

Continuo sendo um zero a esquerda para o álcool, sendo assim, fica mais fácil começar cedo. No pé um par de tênis laranja, no fone levo umas músicas das bandas preferidas, uma garrafa d’água para dar aquele toque e vamos já para o asfalto. Correr, admirar os carros passeando pelas ruas de Miami, sentir a brisa fresca dessa cidade, analisar os rostos que cruzam nosso caminho enquanto agradecemos por mais um dia de luta.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Roatan: Sobre as Penas, o Vento e as Pedaladas

27/01/11
O corpo reclama. Mal sinto minhas pernas. A boca ainda está seca, recorda o vento abafado que soprava no rosto há alguns minutos atrás. A endorfina ainda toma conta do sistema nervoso. A canela tem algum sangue seco. No embaçado causado por olhar lugar nenhum, acabo de lembrar que a caminho de minha cabine, cruzei com uns cinco que me cumprimentaram... Perguntaram-me se eu tinha ido lá fora... Fui! Até mais longe do que o simples afora, eu fui aonde o turista não arrisca e o corpo não insiste. Foi bom... Estou começando a entender as curvas dessa menina... Roatan, eu volto semana que vem!

De todos os portos que visitei, Roatan é a primeira ilha que tenho certeza de que me lembrarei por longos anos. O físico e o espiritual se confundem em um simples passeio de bicicleta. Não precisa de música, o vento está soprando as notas graves, as árvores fazem a percussão e os pássaros seguem com a cantoria: Vai Nilo, Vai Nilo!

O pedal acelera, nem parece que foi você, é tipo música eletrônica batendo nos tímpanos só que ninguém se cansa da repetição sonora, é viciante. Acelera mais um pouco, pisa, descansa, lá vem subida, depois descida, depois subida... Repete, dança com a magrela nesse chão de Honduras. Fica até perto se esquecer o que é longe: Roatan fica logo ali!

A vegetação é bem parecida com a do serrado do Rio... Enquanto imagina, coloque uma água descendo da sua testa ao invés de se lembrar daquele cheiro de ar condicionado e do estofado cinza do seu carro.

Dois caminhos: Você vai pelo asfalto? Não, pega o de terra. Está de bicicleta, o máximo que pode acontecer é não ter saída. Vai? Acelera descida abaixo! Maravilhoooo... Pa! Tum! Pei! Shiiiii! Pariu! Caio e depois me assusto! Bicicleta para um lado. Me levanto. Corro. Corro para o outro. Olho para mim. Olho para as árvores. Me assusto. Entendo. Outro! Eu pareço o homem-lama. Sempre fui medroso por natureza. Treme perna, treme corpo. O que foi que eu disse?!

No meio daquele amontoado de palavras, miro a copa das árvores, as folhas balançam, o barulho é suficiente para achar que os galhos estão todos caindo, a mente desembaralha e começo a contar as negras formas que, também assustadas, aos poucos se reposicionavam. Longas penas e asas gigantescas. Detalhes primitivos. Nunca os imaginara assim, que soltos e entre si, pareceriam tão respeitosos. Acabara de descobrir um refúgio de urubus.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Pursers, Trajeto e Tripulantes

Agora já tenho um caixa, a responsabilidade aumentou. Trabalho como Junior Assistant Purser, o nome é bonito quando está em outro idioma. Os Pursers cuidam de tudo relacionado a hotelaria dentro do cruzeiro, existem vários níveis de Pursers e eu só estou começando.

Para os que trabalham com alimentos e bebidas, a vida é mais complicada. Enquanto eu e meus amigos trabalhamos uma média de nove horas por dia, os garçons, ajudantes e auxiliares de restaurante parecem trabalhar umas doze horas no mínimo. Vários são aqueles que já estão indo para o quarto ou quinto contrato, mas até agora não conheci um que tenha me dito: Adoro meu trabalho!

Os que trabalham no cassino, lojas, fotografia e entretenimento possuem mais chances de sair e conhecer todos os portos em que paramos (cassinos e lojas não abrem quando o navio está atracado; entretenimento sem gente no navio também não conta, isso diminui em grande parte as responsabilidades diárias). Os fotógrafos precisam gostar do que fazem e saber algo sobre fotografia, o inglês é muito importante na hora de mandar sorrir, animar a festa e posicionar os hóspedes mais afoitos.

Dentro do setor de serviços aos hóspedes temos também os camareiros, estes são na maioria Filipinos, sempre muito dispostos, fazem um bom dinheiro no fim do mês por conta das gorjetas.

Meu navio, o Crown Princess faz um trajeto que dura sete dias e abrange boa parte do Caribe: primeiro dia estamos no porto de Fort Lauderdale; segundo estamos no mar; no terceiro ficamos em Grand Cayman, a maior das ilhas Caimã; quarto dia Roatã; quinto sempre em Cozumel; no sexto dia o barco segue navegando e no sétimo ficamos em Princess Cays, ilha exclusiva para embarcações da empresa.

Enquanto o barco segue seu caminho, eu sigo o meu curso. Agora já é hora de voltar para dentro do barco, daqui a dez minutos preciso me apresentar para o treinamento de emergência que acontece em todos os cruzeiros durante o primeiro dia.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Quero Ver Até Quando

Me perguntaram outro dia como eu faço para estar sempre sorrindo, achei estranho. Embarquei para trabalhar com um grupo de pessoas sobre um aglomerado de máquinas e toneladas de ferros flutuantes, onde um dos princípios mais citados é lembrar que estamos sempre no palco; sendo assim, por que me fazer essa pergunta?

Vai fazer um mês que estou aqui e até então sigo sorrindo, nem sempre aquele sorriso largo que damos quando vemos algo engraçado, nem sempre aquele sorriso que preconiza uma gargalhada compulsiva, mas ainda assim sorrindo.

Sorriso: o principal instrumento que levo todos os dias para dentro do escritório além da garrafa d’água.

Tem pessoas que parecem perder tempo contando os dias para te ver reclamar, outros que parecem contar os dias para poder reclamar, aqueles que parecem contar os dias em que vão reclamar, outros que parecem reclamar apenas por não ter do que reclamar!

Navio: Toneladas de ferros (e reclamações) flutuantes indo mais uma vez para a ensolarada Cozumel.

Não quero que tenham a impressão de que as pessoas aqui não são felizes, pelo contrário, a energia dentro desse grande barco é sempre muito intensa e positiva, porém... vai ter bicho igual o homem para reclamar!

Não sou diferente, também tenho os meus momentos, mas sinceramente, estou no maior clima com o mar. “Viver e não ter a vergonha de ser feliz”. O navio me deu asas, e tem uma força que todos os dias me ensina mais um pouco como voar. Sigo feliz.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Trezentos e Sessenta e Cinco Dias

Muita coisa aconteceu desde nosso último contato. O ano virou, passei meu primeiro aniversário longe de casa, longe dos amigos, mas ainda assim feliz. Tenho dentro do peito aquele sentimento de êxito que não me deixa escapar por um segundo, que foi por conta do esforço de poucas pessoas, minha mãe, irmão e pai em primeiro plano, que eu cheguei até aqui.

Quando penso em cada um deles, sempre me lembro do tempo que foi dedicado a minha educação, alimentação e desenvolvimento; minha mãe sem dúvida não gosta de ouvir isso, mas vivi e ainda vivo um mundo capitalista; grande parte do que temos a agradecer se refere ao dinheiro.

É claro que agradeço pelo carinho, pela atenção, pela liberdade de expressão, pelo diálogo, pela diversidade e aceitação, mas não posso deixar de lembrar que para isso tudo acontecer eu precisei de comida, casa, conforto e outras bugigangas e “alguma coisa” players. Viver é um ato de espírito, mas também envolve capital; poucos tiveram tudo o que eu tive e quando coloquei na cabeça que embarcaria só tinha uma certeza: quero que mais alguém lá na frente possa ter tudo o que eu tive e tenha a chance de ajudar não só a uma como a muitas pessoas.

Trabalhei muito por esses dias, porém não posso deixar de citar a energia que é possível sentir em determinados lugares: ficar bêbado sem ter que beber, sentir-se em uma viagem sem fim sem droga nenhuma, é tudo incrível! O aniversário foi sem bolo, mas foi doce como uma das trufas da Cris; visitei Cozumel, umas das ilhas do México.

Lá existe um bar chamado “Noname”, foi aberto algumas décadas atrás por um casal de ex-tripulantes, tem piscina, sol, música e a tal da Corona, a famosa cerveja mexicana!

Visitei Saint Thomas, Barbados e Dominica, ilhas diferentes do Caribe. Fiz uma excursão um dia desses, um circuito completo de tirolesas no meio da floresta, foi muito legal, mas infelizmente não é permitido tirar fotos.

O tempo segue e eu aqui no balanço do mar, só posso afirmar uma coisa: Tudo novo que vejo é um desenvolvimento do velho, seja que, não existe o novo ou o velho, apenas existe.

O meu ano novo já começou faz tempo. Amo vocês! Fiquem com Deus que eu vou com Ele voltar para o barco.