quinta-feira, 16 de junho de 2011

Minha Despedida do Crown Princess

Esse texto é dedicado ao fechamento de meu primeiro contrato a bordo. Para você que veio acompanhando os casos de navegante, espero que se divirta, para quem não me conhece e hoje me visita por acaso, leiam as entrelinhas, está tudo aqui.
Está aqui essa sensação de que o final foi tão rápido que ainda se quer me toquei que já cheguei ao fim. Se não fosse pela aparência do Heathrow aqui em Londres, pelo gosto de Guiness que tenho na boca e pelas pessoas que estão a minha volta, diria que voltei à criação do primeiro relato desse blog; até o pai brincando com a filha me faz lembrar aquele dia.

Vou voltar de braços abertos para aqueles que não desistiram de mim, vou dar um beijo naqueles que acreditaram e se não tiver ninguém além da mãe e irmão, vou beijar o solo da cidade que ficou distante ainda que só por alguns meses.

A volta para casa é algo que é planejado com bastante antecedência, no meu caso eu até que pedi para estenderem meu contrato, mas não deu certo dessa vez; o jeito foi ligar para CSA e avisar: - Mãe chego daqui a alguns dias.

Um detalhe importante é sempre arrumar tudo para a partida com o mesmo zelo que se teve antes do início de seu contrato, ou seja: - Tudo na última hora! Parecia até que estava ouvindo a Cris falando: - Nilo, você arrumou a mala? Arrumei, arrumei tudo ontem. Antes de dormir, mas depois de comer, tomar banho, falar com os amigos, olhar para o mar e chegar a conclusão “shis”! “Shis” de “shit, estou cansado demais, arrumo amanhã”.

Hoje, antes de vir para o aeroporto, continuei a maratona: Vai para o escritório, entrega as chaves, entrega o dinheiro por qual foi responsável, passa tudo o que sabe rapidamente para o novo contratado, fecha a mala, abre a mala, volta na recepção, se despede, volta e se despede da paquita novamente, ri, sente vontade de chorar, se conforma, a vida é assim e parte para abraçar o trajeto de volta ao rio.
Entrei no ônibus que partiria em alguns momentos para Heathrow, passei por alguns amigos que também estavam indo de volta para casa e de repente um susto!

Não conseguia achar a quantia em dólares que juntei durante todo o bem aventurado contrato! Me concentrei, já estava atrasado, não queria atrapalhar ninguém, mas por fim vi que o melhor era abrir a boca para o motorista: - Para aí motorista, esqueci o “cash” todo! Pulei para fora do transporte, corri até o oficial responsável e o mesmo me explicou que a solução era pegar um táxi por conta própria mais tarde, o ônibus precisava partir naquele momento; aceitei a idéia e felizmente quando fechava minha mochila lembrei onde colocara a quantia, já de dentro do ônibus me sentei novamente, já calmo, e me despedi do Crown.

Termino assim, agora é hora de aproveitar as férias. Nada de conclusões mega elaboradas! Quer saber mais? Embarca! Ou espera até eu começar meu próximo contrato.

Fiquem com Deus.

Adaptadores, Momentos & Saudade

Olha lá, você lendo e eu aqui deitando nessas linhazinhas de computador um mundo de informação que passa pela minha cabeça. Pode chamar o Nilo, conta ainda com aquele Nilo que você conheceu um dia; aquele que sempre tentei promover através de músicas, desenhos, cores e fotos, mas é que hoje resolvi me aconchegar aqui nesse amontoado de palavras; me concentrar no que estou sentindo e fica quieto num canto de parágrafo, para depois me jogar para outro suavemente.

Tudo isso só para falar que depois de alguns meses chega a hora de assumir que há um dia chuvoso brotando dentro da minha mente; vejo as idéias reunidas em um corpo sentado em um banco, esperando o ônibus que vai me levar para a cama depois de um dia intenso.

Já não me refiro à América que ficou lá atrás, à areia branca de Caimã, aos altos e baixos do contorno de Roatã, aos carros velozes passeando por Miami ou à água gostosa do mar caribenho; nem mesmo me sinto assim porque já consigo sentir saudade de tudo isso que estou vendo em um novo continente, confesso que vou seguir um pouco além disso.

Tem um texto da Clarice, é! Da Clarice Lispector, que diz que tudo é efêmero, é verdade! Meu desafio é colocar o coração para seguir a ordem dos fatos; pois se às vezes passamos por momentos difíceis, tem momentos que a realidade e tão farta em açúcar que é difícil parar para escovar os dentes.

Me adapto e sempre vou me adaptar, o problema é quando falamos de pessoas: Três dias para partir, para deixar o Crown, para me despedir daqueles que ainda que eu saiba que vou acabar por me esquecer, não me esquecerei jamais. Olho em volta, vejo a fila de passageiros na minha frente, olho os amigos ao me lado e ainda que melancólico, eu sou convidado a aceitar que eu também sou passageiro aqui.

sábado, 11 de junho de 2011

O Monstro do Lago Ness

Dez horas e lá vou eu correndo ao Crew Office buscar as chaves da bicicleta número doze. O Branko vai comigo dessa vez, o sérvio até que pareceu bem disposto quando eu disse que o destino ficava a algumas milhas de distância.

O Branko é um dos amigos que vou lembrar depois que deixar esse navio, é o gerente do serviço de internet a bordo e dá maior força pra minhas metas de longo alcance.

Passei pelo meu quarto, troquei de roupa, lutei para achar algo que fosse suficientemente confortável e por fim depois de muito discutir com o meu ego insano, acabei por sair de casaco... Mas, de bermuda.

Invergordon, Escócia, nove graus Celsius, e lá vamos nós. O Branko riu quando me viu carregando três garrafas d’água na mochilona da Oakley. Invergordon, Escócia: QUARENTA E CINCO MILHAS DE INVERNESS!

Por essa eu não esperava, o destino desejado ficava além do meu tempo livre naquele dia frio. A saída era dar meia-volta, guardar a bike, sentar em um pub, comprar um kilt e rir da aventura furada, mas... Sou péssimo em aceitar as saídas e acabei por enxergar uma entrada; Branko concordou comigo: - Estamos aqui, então... Bora pedalar!

Foram três horas pedalando forte, tão forte ao ponto de voltar totalmente desconcertado em comparação com os turistas a minha volta. Já não tinha casaco e nada de meias de frio. O terreno aberto, pleno em cores verdes e as casinhas no alto dos morros, dignas dos mais belos cenários medievais me fizeram esquecer a baixa temperatura. Cada terreno aberto, cada pequeno lago só me aumentava a curiosidade, as placas passavam, as milhas correram e quando vimos... Era hora de voltar.

Lição número tal para futuros navegantes: O intervalo entre seus dois períodos de trabalho pode ser grande, mas nem sempre grande o suficiente para visitar as maiores maravilhas de determinados portos. Nesse caso não chegamos exatamente onde tentamos: O Lago Ness, o Loch Ness, o Lago do Filme, Aquele do Monstro...

Já acomodados em um pub, pertinho do navio, cerveja local na mão e câmera na outra, o Branko analisa as fotos, larga o copo gigantesco na mesa, pega umas batatas fritas, come, olha de novo para as fotos, olha pra mim, olha para o visor da máquina novamente e questiona: Vem cá? Afinal, se não fomos ao Ness, que lago é esse?! O que é que eu vou falar lá em casa?!

Conclusão: Fui ao Loch Ness e foi maravilhoso! Não acredita?! Dá uma passadinha na Escócia e confirma.