quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Roatan: Sobre as Penas, o Vento e as Pedaladas

27/01/11
O corpo reclama. Mal sinto minhas pernas. A boca ainda está seca, recorda o vento abafado que soprava no rosto há alguns minutos atrás. A endorfina ainda toma conta do sistema nervoso. A canela tem algum sangue seco. No embaçado causado por olhar lugar nenhum, acabo de lembrar que a caminho de minha cabine, cruzei com uns cinco que me cumprimentaram... Perguntaram-me se eu tinha ido lá fora... Fui! Até mais longe do que o simples afora, eu fui aonde o turista não arrisca e o corpo não insiste. Foi bom... Estou começando a entender as curvas dessa menina... Roatan, eu volto semana que vem!

De todos os portos que visitei, Roatan é a primeira ilha que tenho certeza de que me lembrarei por longos anos. O físico e o espiritual se confundem em um simples passeio de bicicleta. Não precisa de música, o vento está soprando as notas graves, as árvores fazem a percussão e os pássaros seguem com a cantoria: Vai Nilo, Vai Nilo!

O pedal acelera, nem parece que foi você, é tipo música eletrônica batendo nos tímpanos só que ninguém se cansa da repetição sonora, é viciante. Acelera mais um pouco, pisa, descansa, lá vem subida, depois descida, depois subida... Repete, dança com a magrela nesse chão de Honduras. Fica até perto se esquecer o que é longe: Roatan fica logo ali!

A vegetação é bem parecida com a do serrado do Rio... Enquanto imagina, coloque uma água descendo da sua testa ao invés de se lembrar daquele cheiro de ar condicionado e do estofado cinza do seu carro.

Dois caminhos: Você vai pelo asfalto? Não, pega o de terra. Está de bicicleta, o máximo que pode acontecer é não ter saída. Vai? Acelera descida abaixo! Maravilhoooo... Pa! Tum! Pei! Shiiiii! Pariu! Caio e depois me assusto! Bicicleta para um lado. Me levanto. Corro. Corro para o outro. Olho para mim. Olho para as árvores. Me assusto. Entendo. Outro! Eu pareço o homem-lama. Sempre fui medroso por natureza. Treme perna, treme corpo. O que foi que eu disse?!

No meio daquele amontoado de palavras, miro a copa das árvores, as folhas balançam, o barulho é suficiente para achar que os galhos estão todos caindo, a mente desembaralha e começo a contar as negras formas que, também assustadas, aos poucos se reposicionavam. Longas penas e asas gigantescas. Detalhes primitivos. Nunca os imaginara assim, que soltos e entre si, pareceriam tão respeitosos. Acabara de descobrir um refúgio de urubus.

2 comentários:

  1. Tá ficando bom! Muito bom... Não vou elogiar muito mais do que isto, caso contrário te deixarei muito convecido. Não que você não esteja merecendo.

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  2. Rsrsrs adorei este post! Tadinho, se ralou todo, é nego? :)

    Eu adoro natureza...uma poesia que nunca morre... e estou mais do que feliz em fazer o Caribe e ver todas estas belezas por aí...

    Parece que nossos navios se cruzarão em alguns portos...te pago um Redbull.

    Beijoca, rei.

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