quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Areia, Pirâmides & Um Pouco de Caos

São sete e trinta e cinco da manhã, já estou fora do navio e dentro do ônibus lotado de passageiros ansiosos. Já posso sentir o Sol rachando contra o teto de metal. São doze ônibus ao todo, o meu é um amarelo número sete. Para variar, minhas pernas não cabem no espaço entre o meu banco e o da frente, minha sorte é estar nessa excursão sozinho, viro as pernas para o banco do lado. Dois minutos mais e Heba, nossa guia, grita lá da frente: É hora de partir! Começamos a nos mover e na primeira curva, ainda na saída do porto, percebo que na frente do comboio de veículos turísticos, assim como ao fim do mesmo, seguem ao menos cinco carros representando uma exótica polícia de homens fardados, preparados para nos escoltar até o fim da viagem. Sinto uma estranha sensação de insegurança, mas fazer o quê? As coisas não estão fáceis para os que vivem aqui; sei que valerá o risco, mais três horas e chegaremos à boca do Saara, mais um pouco e poderei falar que tive a chance de ir ao Cairo e visitar as pirâmides do Egito! Eu sabia que o trajeto entre o navio, que estava em Alexandria, até chegar ao Cairo seria longo, por isso aproveitei o tempo ocioso para dormir. Acordei alguns minutos antes de Heba anunciar que já estávamos próximos, despertei na verdade com uma mosca zunindo ao pé do ouvido. Ao olhar para os lados, eu pude ver o que meses atrás, só via na CNN: Caos, miséria e destruição; ruas entulhadas de lixo, um rio Nilo poluído, poeira, construções inacabadas... Pobreza. Entre interrogações e exclamações de surpresa e pena; assumo que me deparei com um cenário bem pior do que eu esperava: puro caos urbano. Cada cruzamento parecia uma viagem mais profunda a um estado apocalíptico de destruição. Felizmente, minutos depois, ainda chegando ao centro do Cairo, tentando enxergar algo positivo em tudo à minha volta, meus olhos se despertaram para uma nova realidade: vi pessoas buscando por mudança em meio à dificuldade, crianças decididas indo para a escola, mães que acenavam e bocas que sorriam à passagem de um ônibus de vidro fumê que com certeza já é conhecido por vir cheio de turistas com dólares no bolso. E foi assim que depois de pouquíssimo tempo, vi surgir de trás de um prédio empoeirado, algo maior e mais impressionante do que possa parecer em qualquer foto: a ponta da maior de todas as pirâmides do Egito. Tive a chance de visitar não só as famosas pirâmides de Gizé, como também a pirâmide em degraus de Djoser que é a mais antiga de todas as construções egípcias! Fui à Esfinge (só não dei um peteleco no nariz dela); queimei o dedão nas areias do deserto do Saara; conversei com os locais; fui a uma feira de antiguidades; esfreguei uma lâmpada que por mais genial que parecesse não tinha um gênio; comprei uma túnica depois de pechinchar e tirei fotos que valeriam qualquer opção de férias. Aproveitei viu! Aproveitei e sem dúvida tive chance de refletir e me inspirar um pouco mais para aceitar que tem mais mistério no nosso passado do que imaginamos. Aproveitei também para aceitar que a vidinha que eu levo, e que você leva é muito mais fácil do que a vida de muita gente nesse imenso presente. Chance de olhar em volta e mais uma vez ser grato pelo que tem. NOTA: A palavra pirâmide não provém da língua egípcia. Formou-se a partir do grego"pyra" (que quer dizer fogo, luz, símbolo) e "midos" (que significa medidas).

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