sábado, 19 de fevereiro de 2011

Correndo com Valentim pelas Ruas de Miami

Acabei de voltar do crew drill (treinamento de segurança apenas para os tripulantes que ocorre uma vez por semana), eu sou um dos door checkers da minha área de concentração; fico responsável por contar quantos passam pela saída de emergência a caminho dos botes salva-vidas (aqui se chamam tenders).

Ontem comemoramos o Valentines Day (Dia de São Valentino ou Dia dos Namorados), achei curiosa a preocupação das pessoas por aqui com a data, tudo muito decorado e colorido, tipo Natal, mas nada de achar alguém para me explicar quem foi o famoso Valentim. Resolvi buscar na internet e confirmei algo que já tinha lido por aí. São Valentim é um santo que representa mais de uma pessoa em diferentes momentos da história; ambos eram ligados a igreja, ambos foram heróis, ambos morreram para então serem canonizados.

Tirando o momento alienação “Comemoremos e Deixemos a Razão de Lado”, foi uma noite e tanto. Os Pursers ficaram responsáveis pela decoração, eu responsável pelas compras dias antes.

Continuo sendo um zero a esquerda para o álcool, sendo assim, fica mais fácil começar cedo. No pé um par de tênis laranja, no fone levo umas músicas das bandas preferidas, uma garrafa d’água para dar aquele toque e vamos já para o asfalto. Correr, admirar os carros passeando pelas ruas de Miami, sentir a brisa fresca dessa cidade, analisar os rostos que cruzam nosso caminho enquanto agradecemos por mais um dia de luta.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Roatan: Sobre as Penas, o Vento e as Pedaladas

27/01/11
O corpo reclama. Mal sinto minhas pernas. A boca ainda está seca, recorda o vento abafado que soprava no rosto há alguns minutos atrás. A endorfina ainda toma conta do sistema nervoso. A canela tem algum sangue seco. No embaçado causado por olhar lugar nenhum, acabo de lembrar que a caminho de minha cabine, cruzei com uns cinco que me cumprimentaram... Perguntaram-me se eu tinha ido lá fora... Fui! Até mais longe do que o simples afora, eu fui aonde o turista não arrisca e o corpo não insiste. Foi bom... Estou começando a entender as curvas dessa menina... Roatan, eu volto semana que vem!

De todos os portos que visitei, Roatan é a primeira ilha que tenho certeza de que me lembrarei por longos anos. O físico e o espiritual se confundem em um simples passeio de bicicleta. Não precisa de música, o vento está soprando as notas graves, as árvores fazem a percussão e os pássaros seguem com a cantoria: Vai Nilo, Vai Nilo!

O pedal acelera, nem parece que foi você, é tipo música eletrônica batendo nos tímpanos só que ninguém se cansa da repetição sonora, é viciante. Acelera mais um pouco, pisa, descansa, lá vem subida, depois descida, depois subida... Repete, dança com a magrela nesse chão de Honduras. Fica até perto se esquecer o que é longe: Roatan fica logo ali!

A vegetação é bem parecida com a do serrado do Rio... Enquanto imagina, coloque uma água descendo da sua testa ao invés de se lembrar daquele cheiro de ar condicionado e do estofado cinza do seu carro.

Dois caminhos: Você vai pelo asfalto? Não, pega o de terra. Está de bicicleta, o máximo que pode acontecer é não ter saída. Vai? Acelera descida abaixo! Maravilhoooo... Pa! Tum! Pei! Shiiiii! Pariu! Caio e depois me assusto! Bicicleta para um lado. Me levanto. Corro. Corro para o outro. Olho para mim. Olho para as árvores. Me assusto. Entendo. Outro! Eu pareço o homem-lama. Sempre fui medroso por natureza. Treme perna, treme corpo. O que foi que eu disse?!

No meio daquele amontoado de palavras, miro a copa das árvores, as folhas balançam, o barulho é suficiente para achar que os galhos estão todos caindo, a mente desembaralha e começo a contar as negras formas que, também assustadas, aos poucos se reposicionavam. Longas penas e asas gigantescas. Detalhes primitivos. Nunca os imaginara assim, que soltos e entre si, pareceriam tão respeitosos. Acabara de descobrir um refúgio de urubus.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Pursers, Trajeto e Tripulantes

Agora já tenho um caixa, a responsabilidade aumentou. Trabalho como Junior Assistant Purser, o nome é bonito quando está em outro idioma. Os Pursers cuidam de tudo relacionado a hotelaria dentro do cruzeiro, existem vários níveis de Pursers e eu só estou começando.

Para os que trabalham com alimentos e bebidas, a vida é mais complicada. Enquanto eu e meus amigos trabalhamos uma média de nove horas por dia, os garçons, ajudantes e auxiliares de restaurante parecem trabalhar umas doze horas no mínimo. Vários são aqueles que já estão indo para o quarto ou quinto contrato, mas até agora não conheci um que tenha me dito: Adoro meu trabalho!

Os que trabalham no cassino, lojas, fotografia e entretenimento possuem mais chances de sair e conhecer todos os portos em que paramos (cassinos e lojas não abrem quando o navio está atracado; entretenimento sem gente no navio também não conta, isso diminui em grande parte as responsabilidades diárias). Os fotógrafos precisam gostar do que fazem e saber algo sobre fotografia, o inglês é muito importante na hora de mandar sorrir, animar a festa e posicionar os hóspedes mais afoitos.

Dentro do setor de serviços aos hóspedes temos também os camareiros, estes são na maioria Filipinos, sempre muito dispostos, fazem um bom dinheiro no fim do mês por conta das gorjetas.

Meu navio, o Crown Princess faz um trajeto que dura sete dias e abrange boa parte do Caribe: primeiro dia estamos no porto de Fort Lauderdale; segundo estamos no mar; no terceiro ficamos em Grand Cayman, a maior das ilhas Caimã; quarto dia Roatã; quinto sempre em Cozumel; no sexto dia o barco segue navegando e no sétimo ficamos em Princess Cays, ilha exclusiva para embarcações da empresa.

Enquanto o barco segue seu caminho, eu sigo o meu curso. Agora já é hora de voltar para dentro do barco, daqui a dez minutos preciso me apresentar para o treinamento de emergência que acontece em todos os cruzeiros durante o primeiro dia.